Virtudes Tardias e Dignidade Questionável

Aquele que passou a vida toda nos desvios das virtudes, e ainda exacerbou suas maldades contra os menos favorecidos, jamais será interpretado como dignidade o ato deste, ao preparar-se para a morte, mudando de atitudes apenas na véspera.

A linhagem, agora questionável.
A habilidade de cativar, rarefeita.
O apreço pelo fino, agora turvo.
O falar, cheio de artifícios.
O olhar, repleto de ilusões.
O beijo, traz resquícios de dúvida.
O abraço, infunde amargor.
As carícias, despertam profundo desagrado.
A falta de contato, ecoa com angústia.
As piadas inoportunas, geram desilusão.
As descontentações, frequentes.

Como pode algo ser tão repudiado e tão desejado?

As extravagâncias realizadas, marcantes.
Os anseios não realizados, fervorosos.
Os beijos inesperados, provocantes.
A carícia no momento de amor, memorável.
O toque atrevido, sedutor.
O entrelaçar de pernas, delirante.
A paixão, sufocante.
O rugido do urso, embriagante.
As palavras, arrebatadoras.
O aperto, devastador.
O repouso, recompensador.
Como pode algo ser tão repudiado e tão desejado?

Um homem de virtuosas palavras nem sempre é um homem virtuoso.

Ele se proclama autônomo... talvez seja porque, não importa o contexto, ele sempre solicita auxílio.

Quem disse que você é alguém de caráter, certamente tem talento para a ironia!

Concordar quando meu desejo é discordar é valorizar mais os outros do que a mim mesmo, é não estabelecer meus próprios limites e, por consequência, é uma forma de desrespeito a mim. É como se o que eu sinto não importasse, como se outros pudessem me sobrepujar sem consideração alguma. E eles o fazem, sem compaixão ou remorso.

Atualmente, estou aprendendo a expressar o não. Se algo não me agrada, simplesmente respondo com um não. Sem irritação ou afetação. Um não não é apenas uma recusa. É a demarcação do nosso espaço. É um direito que possuímos de escolher o que queremos ou não fazer. Isso se chama dignidade. Quando nos posicionamos com verdade, expressando nossos sentimentos, conquistamos respeito.

Zíbia Gasparetto