O Paradoxo da Agressão Retaliatória

Não existe paradoxo mais intrigante do que recorrer à agressão com o intuito de barrar uma ação agressiva.

A agressão alimenta mais agressão.

Diz a lenda que Monomotapa era o lar de dois amigos, uma dupla de amizade tão perfeita que mal se vê por esse mundo afora. Numa noite avançada, sob o manto da escuridão e com todos a dormir, um deles despertou alarmado e foi ao encontro do outro. Despertou os servos e o amigo, todos rendidos ao domínio de Morfeu. O amigo ergueu-se num ímpeto, pegou a espada e a bolsa de dinheiro, postou-se diante dele e falou:

"É raro te ver assim, apressado na calada da noite. Sei que valorizas o repouso; se perdeste no jogo, toma minha bolsa; se sofreste agressão, empunha minha espada em teu socorro. Dize, estou ao teu lado. Mas conta, o que te aflige?"

"Agradeço tua generosidade. Não é jogo nem agressão que me trazem, mas um sonho onde te vi abatido e isso me trouxe correndo até aqui. Foi um maldito sonho que me alarmou."

Quem dos dois mostrou ser o amigo mais leal? É um questionamento válido. A verdadeira amizade é sublime! É rara a pessoa que, ao notar um vislumbre de tristeza em nosso semblante, se preocupa tanto que até um simples sonho a mobiliza em nosso auxílio. Pois até o menor sinal, o que muitas vezes ignoramos, nos causa temor quando se refere a quem temos carinho.

É uma característica do ser
humano o paradoxo.
O que ocorre com os
grupos, se manifesta em cada
um de nós.
Impulsivamente, uma parte do
nosso eu rompe o estado de
realidade, quebra o equilíbrio,
e por não tolerar o bem, traz para cada um de nós
uma dose de infelicidade,
como se essa infelicidade
viesse restaurar a culpa e
corrigir o dano (de ser feliz).
É por isso que os laços se
rompem, os afetos se
dissolvem e o sonho se desfaz.

O abraço sempre une, jamais separa.
Ele é puro carinho, nunca agressão.
Abraçar é semear bondade em um gesto singelo.

Ninguém duvida tanto como aquele que mais sabe.