Despedida de um Amor Imperfeito

Há momentos em que precisamos nos despedir de um amor. Adeus, por vezes, porque não nos sentimos à altura dessa emoção tão intensa.

Ou talvez porque o amor já tenha causado dor demais. É doloroso, provoca sofrimento. No entanto, se é tempo de encerrar, o melhor é deixar fluir.

O amor é uma sensação incrível, mas só tem valor quando é completo; e se for para existir em nossas vidas, que seja para trazer alegria.

Num universo repleto de falhas e equívocos, a perfeição se tornaria uma raridade.

Quando partiste, amor
A noite se tornou infinita
O astro rei perdeu seu fulgor
O lar se tornou uma ilha deserta
O calor da lareira se esvaiu
O cobertor não mais acolhia no frio
As chamas das velas se extinguiram
As plantas feneceram
Quanto afeto, claridade e calor
Foram levados por esse adeus?
Não posso quantificar, apenas sentir
As lágrimas caem sem prenúncio
E continuo a trilhar
Recolhendo os fragmentos deixados
Fragmentos de amor, de brilho, de existência
Quão árduo é reuni-los outra vez
A despedida é áspera,
Não concede pausa, traz dor
Mas hei de lutar contra essa lacuna,
Contra essa noite sem estrelas
O sol irá resplandecer de novo
O sol há de invadir este espaço
Que agora me pertence
O sol há de nutrir minhas plantas
E meu jardim florescerá
Sim, vou me reerguer
E reconstruir meu espaço
Após essa partida
E quando um novo amor surgir,
Meu lar estará pronto
Para acolher todas as flores,
Com velas e melodias
Sim, a despedida não mais
Magoará meu coração!

Parece que foi ontem que meu pai partiu, e tudo ainda me parece surreal. Não faz muito que escutei o som da porta se fechando, num gesto de despedida. Um até logo que eu julgava ser só até o cair da noite, como era de costume. Contudo, aquele foi um adeus definitivo. Uma despedida do nosso mundo, da nossa família. Uma despedida da vida, tal como a conhecíamos até então.

Essas recordações permanecem tão nítidas na minha mente, que meu coração ainda aguarda o retorno dele, como se nada tivesse acontecido. Há algo em mim que se recusa a aceitar essa morte e isso, talvez, seja o que me impede de prosseguir.

A ausência do meu pai me deixa um vazio imenso. A saudade cresce a cada dia e é difícil aceitar essa realidade. Pensar em como será a vida daqui para frente é um desafio enorme. Mas quando não podemos alterar o passado, o que nos resta é honrar os ensinamentos deixados por aqueles que sempre amaremos.

Adeus, meu bem. A despedida é melancólica, embora tenha convicção de que nossa conexão persistirá.

Dói. Uma dor que se sente no corpo, uma dor que ecoa na alma. Uma dor persistente, uma dor que parece eterna. Sepultar um amor é uma das dores mais profundas que se pode sentir na vida.

Um amor que se vai é um pedaço de existência que se esvai. São planos desfeitos, expectativas desmoronadas, sonhos que jamais se concretizarão.

O amor nos envolve em sua mágica, nos faz crer, nos impulsiona a lutar. Porém, quando seu fim é inevitável, quando se aproxima do seu ocaso, é essencial aprender a aceitar.

No amor, assim como na vida, não se pode batalhar contra o inevitável adeus. Quando a despedida bate à porta, é preciso reverenciar sua presença. Resta-nos apenas preparar o coração e a alma para um tempo de luto, para enfrentar os dias sombrios, para acolher a tristeza.

Contudo, não devemos nos render à dor. Um amor que se despede dá espaço para um novo recomeço. Sonhos se vão, mas novos surgem. É necessário aprender a aceitar, é preciso sabedoria e coragem para seguir adiante, mesmo quando o corpo está exausto e o coração parece desistir de pulsar.

Dói sepultar um amor.